Noventa e sete mortes. Vinte e três anos. Uma verdade escondida e uma
mentira oficial. Várias doses de ignorância, pitadas de poder e manipulação a
gosto. Junte esses ingredientes e você tem um rico material para pensar as
relações espúrias entre a mídia, o governo e os poderes do Estado. Dia 15 de
abril de 1989, os times do Liverpool e do Nottinghan Forest disputariam a final
da Copa da Inglaterra. Quando o jogo começa centenas de torcedores estavam fora
do estádio impedidos de entrar mesmo com ingressos nas mãos, é quando policiais
resolvem abrir os portões iniciando um tumulto, aqueles que estavam à frente
passam a ser empurrados contra as grades; como resultado, duas mil pessoas esmagadas
e 96 mortos. A maior tragédia da história do futebol europeu nasce de uma série
de erros, com um mínimo de organização não haveria mortos ou feridos. A polícia
impediu os torcedores de tentar escapar em direção ao campo e depois ainda condenando-os
à morte. Muitos deles não foram socorridos, o que poderia lhes garantir a vida.
É quando começam as mentiras, a polícia britânica culpou os torcedores do
Livepool, adulterou depoimentos, forjou situações e buscou transformar as
vítimas em culpados lhes imputando históricos de brigas, crimes e envolvimento
com álcool ou drogas. O governo inglês permitiu que as provas fossem alteradas
para redimir a culpa do poder público e evitar desgastes. Continue lendo:
Os relatórios policiais receberam da imprensa o status de versão oficial, o jornal The Sun publicou as mentiras oficiais numa edição especial em que a capa anunciava em letras garrafais: a verdade! Duas décadas depois o caso foi reaberto graças à iniciativa de torcedores e familiares das vítimas, que conseguiram recolher mais de cem mil assinaturas para isso. Agora mais de vinte e três anos depois o governo inglês reconheceu as fraudes, mais de 160 depoimentos adulterados e outros 116 foram eliminados, o primeiro ministro David Cameron subiu ao Parlamento para pedir desculpas e o jornal The Sun lança uma edição cheia de retratações pelos seus erros. Um novo relatório mostra que a tragédia ocorreu, sobretudo, por conta das negligências das autoridades.
Os relatórios policiais receberam da imprensa o status de versão oficial, o jornal The Sun publicou as mentiras oficiais numa edição especial em que a capa anunciava em letras garrafais: a verdade! Duas décadas depois o caso foi reaberto graças à iniciativa de torcedores e familiares das vítimas, que conseguiram recolher mais de cem mil assinaturas para isso. Agora mais de vinte e três anos depois o governo inglês reconheceu as fraudes, mais de 160 depoimentos adulterados e outros 116 foram eliminados, o primeiro ministro David Cameron subiu ao Parlamento para pedir desculpas e o jornal The Sun lança uma edição cheia de retratações pelos seus erros. Um novo relatório mostra que a tragédia ocorreu, sobretudo, por conta das negligências das autoridades.
Desta vez ouve uma outra investigação, mas geralmente isso não ocorre
e fica a versão oficial. Fica a covardia e a omissão da imprensa, atrelada ao
governo ou à estrutura de poder mais próxima, fica a mentira construída contra
a verdade dos fatos. Quantas mentirinhas e mentironas nos chegam pela imprensa
a cada mês? Quantas delas nascem do despreparo dos jornalistas, quantos veem da
má-fé e da desonestidade? Uma coisa é interpretar um fato e errar pela
incapacidade de compreendê-lo outra é reconstruí-lo para moldá-lo aos
interesses. Podemos mentir acreditando nas mentiras que criamos, podemos mentir
acreditando que a nossa mentira pode se tornar, em nosso benefício, se tornar
verdade. Para o segundo caso não há desculpa verdadeira!
You’ll never walk alone